Onde há muito mais de nós mesmos...

Por Regiane Litzkow



Entre chuva e biscoitos.


Há tempos que não desabo aqui e nem ouso mais justificar-me. Uma coisa é fato: Sempre corro para cá em situações que me amedrontam. Muitas vezes, só rascunho minhas percepções, outras - a maioria delas- distraio-me dos medos atuais apenas lendo medos antigos. E assim, me refugio. Sempre aqui.
É verdade que me perco muito com as minhas palavras, paradoxalmente, nelas sempre me encontro. O que não significa encontrar as respostas, mas saber de mim mesma já é um grande avanço para atenuar minhas crises.

De uns tempos para cá, prometi tentar relaxar e não levar tão a sério certos aspectos da capacidade humana. Óbvio que não funcionou, nunca funciona. Nessas horas, junto à frustração é que vem o diabo do medo. Medo do mundo, diante da constatação de ser parte dele. Este mundo que não quer saber seu nome. De pessoas que não procuram seus olhos, suas verdades. Atualmente, sinto-me cada vez mais em um monólogo. Falo coisas sobre mim e os outros respondem coisas de si próprios. Com sorte nem precisaremos emitir opiniões.

Eu tenho pânico de multidão, admito. Trauma de infância. Não sei. Mas sempre quis lidar com gente. Ainda acredito em gente. Gosto de gente. Detesto me sentir um ET por isso. Detesto mais ainda quando não me sinto este ET, rendida aos conceitos gerais, mesmo nos menores atos. Como de quando passei a entrar nos ônibus procurando o assento com o lado vazio. Por quê? É comum. Somos suspeitos. Ouso declarar culpados.
É nessa atmosfera que, criamos universos individuais, segregamos os interesses, tornamos o próximo comum, identificável, dedutível. Mesmo sobre a prerrogativa de que há muito mais além das palavras, ainda perstiste uma indisposição. Por que lidar com sentimentos que não os seus? Assim, vivemos de nossas concessões. Pequenos momentos, brechas, as poucas chances de dizer quem é. Nosso discurso. Nossa mesquinharia.

Será que sempre foi assim e eu só percebi quando tornei-me adulta? Perdemos algo? Somos mais vazios? Meu sorriso tornou-se burocrático? Tudo bem, não podemos conhecer a todos, porém, acredito que esquecemos que há um todo. Evitamos nossos semelhantes pela possibilidade das diferenças. Que bizarro!

Ontem, num ponto de ônibus, enquanto esperava a chuva passar (para evitar outro banho gelado), uma senhora bem simples, despretensiosamente, sentou-se ao meu lado, abriu um biscoito de polvilho e questinou:

 - O que adianta colocar a validade se nunca dá para enxergar? Tá sempre borrada.

 - Pois é, eles fazem isso mesmo!- respondi alheia

Ela então, ofereceu-me do biscoito e deu a contar alguns casos para mim, como quem fizesse parte da minha vida há anos; Eu, a velha e a chuva... Ah, e os biscoitos!

Embora falássemos de banalidades, aquele foi um encontro sublime.
Nos despedimos quando a chuva cessou, o que não impediu que outros pingos - quentinhos. Ufa! - lavassem meu rosto no trajeto para a casa.

Quem seria aquela senhora: Um passado, uma brecha, uma exceção?

Para mim e, contra todos os meus medos: Uma esperança.

4 comentários:

Neusa disse...

A doçura de sempre!!!!

Anônimo disse...

Esta crônica ficou singela, tem um título sugestivo e poético. Muito bem escrita. Simples e despretensiosa, cada palavra no lugar certo, não faltando nem sobrando. Tem pegada literária.

Dennys Távora disse...

Regi querida, o receio diante do desconhecido é um sentimento normal de todos nós. Pode ser uma pessoa que jamais vimos e sobre a qual não temos informação alguma, um lugar onde nunca estivemos ou até mesmo uma situação que ainda não enfrentamos. A reação é quase sempre a mesma. Se estamos diante de algo ou de alguém que não conhecemos, sentimo-nos inseguros.
É sem dúvida mais confortável estar ao lado das pessoas com as quais estamos acostumados a conviver, em lugares que conhecemos de olhos fechados e cujos costumes, hábitos e rotinas já foram há muito tempo desvendados por nós. Em tais circunstâncias, tudo se torna mais previsível!
Todavia, o desconhecido, seja pessoa, lugar ou situação, carrega consigo uma maior imprevisibilidade, que nos traz insegurança.
No fundo, é a capacidade de prevermos o que pode acontecer que nos dá uma maior ou menor tranqüilidade. Em outras palavras, o problema está em nós mesmos, em virtude da nossa falta de informações ou de experiência e pelo limitado conhecimento que temos do outro, seja pessoa, lugar ou situação.
Contudo, como a aquisição de conhecimento é um processo dinâmico, na medida em que nos abrimos e nos damos a oportunidade de descobrir o outro, o passar do tempo naturalmente reduzirá a imprevisibilidade de modo a nos sentimos mais seguros e confortáveis, ou seja, o outro, seja pessoa, lugar ou situação, deixará de ser algo desconhecido.
O desconhecido só permanece enquanto tal se não nos oferecermos a oportunidade de desvendá-lo e compreendê-lo.
A prudência aconselha a não nos enfiarmos de cabeça no desconhecido. Porém, evitarmos pessoas, lugares e situações que não são ainda conhecidas nos retira a maravilhosa possibilidade de ampliarmos o horizonte do nosso conhecimento, de acumularmos experiência e, por conseqüência, de crescermos enquanto indivíduos.
Gostamos de gente, seja semelhante ou diferente, de lugares novos e fascinantes e até de desafios, que não oferecem a oportunidade única de ampliar os conhecimentos. Até desafios? Sim, por que não? Afinal, a vida, por si só, já é um desafio. Vamos vivê-la, então, em toda a sua plenitude!
Beijo carinhoso.

Dennys Távora disse...

Regi querida, o receio diante do desconhecido é um sentimento normal de todos nós. Pode ser uma pessoa que jamais vimos e sobre a qual não temos informação alguma, um lugar onde nunca estivemos ou até mesmo uma situação que ainda não enfrentamos. A reação é quase sempre a mesma. Se estamos diante de algo ou de alguém que não conhecemos, sentimo-nos inseguros.
É sem dúvida mais confortável estar ao lado das pessoas com as quais estamos acostumados a conviver, em lugares que conhecemos de olhos fechados e cujos costumes, hábitos e rotinas já foram há muito tempo desvendados por nós. Em tais circunstâncias, tudo se torna mais previsível!
Todavia, o desconhecido, seja pessoa, lugar ou situação, carrega consigo uma maior imprevisibilidade, que nos traz insegurança.
No fundo, é a capacidade de prevermos o que pode acontecer que nos dá uma maior ou menor tranqüilidade. Em outras palavras, o problema está em nós mesmos, em virtude da nossa falta de informações ou de experiência e pelo limitado conhecimento que temos do outro, seja pessoa, lugar ou situação.
Contudo, como a aquisição de conhecimento é um processo dinâmico, na medida em que nos abrimos e nos damos a oportunidade de descobrir o outro, o passar do tempo naturalmente reduzirá a imprevisibilidade de modo a nos sentimos mais seguros e confortáveis, ou seja, o outro, seja pessoa, lugar ou situação, deixará de ser algo desconhecido.
O desconhecido só permanece enquanto tal se não nos oferecermos a oportunidade de desvendá-lo e compreendê-lo.
A prudência aconselha a não nos enfiarmos de cabeça no desconhecido. Porém, evitarmos pessoas, lugares e situações que não são ainda conhecidas nos retira a maravilhosa possibilidade de ampliarmos o horizonte do nosso conhecimento, de acumularmos experiência e, por conseqüência, de crescermos enquanto indivíduos.
Gostamos de gente, seja semelhante ou diferente, de lugares novos e fascinantes e até de desafios, que nos oferecem a oportunidade única de ampliar os conhecimentos. Até desafios? Sim, por que não? Afinal, a vida, por si só, já é um desafio. Vamos vivê-la, então, em toda a sua plenitude!
Beijo carinhoso.