Onde há muito mais de nós mesmos...

Por Regiane Litzkow



Cada um com suas prioridades!


Eu cresci ouvindo essa frase do papai, quando ele tentava justificar atitudes e comportamentos estranhos das pessoas, especialmente sobre mamãe, mediante algum comentário de reprovação quanto sua postura de mãe ausente... Devo ter assimilado muito essa filosofia, que colaborou definitivamente para formação do meu caráter e talvez seja o principal motivo do meu desprendimento em lidar com as diferenças alheias, de um modo geral...Tenho amigos de todas as tribos...Apesar disso sempre me senti meio solitária, não sei, mas há um vago dentro de mim que nada supre, culpa minha provavelmente, que sempre fui meio introspectiva, há quem diga meio "ostra", alguma vezes até taxada de individualista, e por fim meu analista que me define como reprimida. Definições á parte, acredito ser esse meu ponto de equilíbrio, que me permite ver as coisas sem revolta, de modo mais sereno, o que também não significa complacente. Nunca tive grandes problemas com o mundo, meus grandes dramas, as maiores batalhas travadas, sempre foram comigo mesma. Isso pode remeter um certo egocentrismo.Porém, o fato é que não sou do tipo que costuma atribuir os infortúnios á outrem, nem afirmo que essa seja uma qualidade, vai ver que de repente eu me acomodei em ficar com certas coisas só pra mim.



Ultimamente, tenho pensado muito nesse lance de prioridades. E é impressionante como algumas coisas não mudam! Até as minhas inconstâncias terminar por me levar ao mesmo denominador comum. Existem sonhos que parecem ter nascido conosco...Eu por minha vez cresci sonhando com a liberdade, e vivo a vislumbrando até hoje, esse tipo de sonho não costuma morrer fácil dentro de nós, poderia afirmar que são eles que embalam nossa vida. Eu comecei perceber que nem sempre nossos sonhos são nossas prioridades. Há pessoas que passam uma vida adiando seus sonhos e no fim eles não passaram de sonhos, muitas vezes secretos, trancafiados à sete chaves no mais profundo esconderijo da alma... Talvez isso explique porque grande parte dos idosos têm aqueles aspecto tristonho. Meu Deus! Eu nem sei o que me levou a pensar nisso tudo no auge dos meus 23 anos, mas confesso que morro de medo de um dia acordar cheia de rugas e com um histórico frustrante! As rugas tudo bem, fazem parte do processo e a tecnologia ameniza, mas a outra parte...Essa sim me apavora.



E essas inquietudes ficam passeando em minha mente, principalmente nesses dias de solidão, já que papai está viajando...

E não adianta; fico em frangalhos com a ausência dele! E fico pior ainda por não conseguir reagir diferente. Observo meus irmãos, e até invejo a maneira como eles superam... Desde criança papai precisava sempre viajar a trabalho, nós chorávamos na hora da partida, depois eles voltavam a brincar, enquanto eu tinha febre, não comia e não dormia direito, até parar num hospital. É óbvio que hoje em dia tenho uma postura diferente, mas o sentimento é exatamente igual: Eu fico de cá pensando se ele está comendo bem, se as noites lá têm feito frio como aqui, se ele está agasalhado... Para me senti mais perto fico mexendo nas coisas dele. Ontem encontrei uma maleta preta, que na infância sabe Deus por quê, era meu sonho de consumo. Nela havia vários trabalhinhos que fazíamos na escola quando crianças. Muitos desenhos, principalmente meus, a maioria flores e é até hoje o que mais gosto de pintar, não sei se porque tenho mais facilidade. Quem sabe elas refletem alguma pretensão expressiva em meu subconsciente?! Caso seja, não posso me queixar, tenho as encontrado nas mais diversas formas e inusitadas aparições durante todo meu caminho...

Mas voltando à velha maleta recheada de papéis floridos, um em especial me chamou a atenção, era uma cartinha que eu fiz aos 8 anos que com uma letra inocente (e horrorosa) dizia assim:



"Papai você é a flor mais linda do meu jardim!"



É...De fato cada um com suas prioridades, com seus dramas, com seus sonhos...

Cada um com suas flores!

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