Onde há muito mais de nós mesmos...

Por Regiane Litzkow



Eu e o Tempo...


Nesta semana, enquanto eu passeava com o controle remoto por alguns canais à procura de algo interessante, vi que a TV Cultura exibia uma entrevista que o Roberto D'Ávila havia feito em 2002 com a grandiosa Lya Luft. Resolvi ficar por ali e assistir. Não é que ela falava do livro (na época ainda inacabado) "Perdas e Ganhos", o mesmo que eu comecei ler no fim do ano passado e por conta dos mil e um problemas que me aparecem acabei deixando-o abandonado na escrivaninha, enchendo de poeira... Essa entrevista foi o empurrãozinho que eu precisava para me livrar desse sedentarismo que andava impreguinado em mim. Devorei o livro (excelente, leiam!) no outro dia mesmo. No fim, fiquei até me sentindo mal. Sabe quando nos percebemos com uma energia gigantesca acumulada e não temos onde a gastar?! Pois é assim que me senti. É até contraditório eu dizer isso no estado de saúde em que me encontro, mas é fato; há horas que não caibo em mim, neste quarto, nesta realidade... Uma vontade devastadora de viver estaciona sobre mim...Sim, viver intensamente, com total plenitude, porque por mais que eu entenda que tenho crescido com tudo isso, absorvido experiências fascinantes e preciosas pra toda uma vida, paradoxalmente(,) tenho a inquietante sensação de estar vegetando, e isso às vezes me consome, particularmente nestes dias em que o verão faz questão de entrar bem cedo sedutor pela insinuante janela do meu quarto...

Não acredito em astrologia, mas o sol tem uma influência elementar sobre o meu humor. Com ele eu me sinto mais viva, mais inspirada e conseqüentemente mais bela. Isso tudo seria fabuloso não fosse eu ter de ficar enfurnada aqui vendo a vida passar...Todavia, como de nada adianta me resignar, diante das escassas alternativas resolvi arrumar meu armário pra preencher meu tempo. Acabei encontrando uma porção de coisas que não uso mais e as separei pra levar a semana que vem para o Bazar da AFECC (Associação Feminina de Educação e Combate ao Cancêr), que é integrada ao hospital, uma entidade que faz um trabalho lindo, imprescindível à vida de tantos pacientes que dele usufruem e digno de toda admiração, com uma equipe de voluntários fantásticos... São as almas superiores, como costumo chamar...

O fato é que mesmo no auge do meu tédio, eu acabei sendo útil para outras pessoas e no fim acabei me sentindo bem também, sem contar que toda vez que resolvo fazer essas arrumações encontro um monte de coisa esquecida: aquela foto ou carta de um amigo que não vimos há tempos, diários e anotações antigos, roupa ou acessório que caiu de moda, entre outras bobagens que terminam sempre por me distrair e me ajudar a passar o tempo.



Ah! O tempo... Ora grande aliado, ora impiedoso carrasco... E por oscilar tanto em sua relatividade é que de uma forma ou de outra sempre nos envolve e nos leva...

É, Sr. Tempo, quem nos apresentou esqueceu de contar-me o quão és faceiro e cheio de mistérios! Mas deixa estar e continua a me conduzir. Ainda acredito em nossa bela e longa parceria...

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